Confira entrevista exclusiva cedida pelo artista do projeto Hutti Heita ao purpletrance, e neste link a segunda parte.

Pra quem não conhece Hutti Heitta é o projeto do norueguês Kim Fredrik Svendsen iniciado entre o final dos anos 90 e começo dos anos 2000, um dos managers da gravadora Ygggdrasil e dono de um som único, com texturas úmidas, elementos derretidos e com um alto teor psicodélico, Kim mostra em seu som que é possível sim inovar e manter as raízes tribais e rítmicas e utilizar a música não apenas para o lazer mas também para alcançar estados de transe profundo

Dividimos a entrevista em 2 partes, na semana que vem postaremos a segunda parte da entrevista onde Hutti Heitta fala sobre produção musical, inspiração, influências musicais e muito mais.

Hutti Heitta se apresentará no festival de fim de ano Terra em Transe  que acontecerá na Praia do Garcez  na Bahia entre os dias 29/12 de 2014  e 03/01 de 2015, para este ano o Terra em Transe caprichou na produção do festival, com um line de peso agradando a todos os gostos musicais, se eu fosse você não perdia tempo e corria lá na fanpage ou clique aqui para garantir seu ingresso, quem já passou um réveillon na Bahia sabe do que estou falando, nada melhor do que curtir uma boa música nas belas praias baianas.

Fiquem atentos a novas informações sobre o Terra em Transe!

Purpletrance: Como foi seu primeiro contato com a musica eletrônica?

Hutti Heita: Meu primeiro contato com música eletrônica foi em 1986. Eu ganhei um computador Amiga 500 dos meus pais e, até hoje, é o melhor presente que recebi. Na época, ele estava à frente de qualquer outro computador em relação ao que podia ser feito com softwares. Enquanto moleque, eu me divertia com isso.

Em 1990, eu li no jornal sobre uma novidade chamada “Rave”. Me senti atraído por isso instantaneamente, como se fosse um chamado espiritual. Procurei as músicas e comecei a fazer experiências com o sequenciador do Amiga 500. No mesmo ano comecei o colegial em Oslo, capital da Noruega. Um dos meus colegas era DJ e ficamos amigos rapidamente. Conectamos no lance da Rave, procuramos outros com o mesmo interesse. Encontramos e fizemos parte do começo da cena Rave norueguesa.

Já fiz de tudo, desde  festas em prédios invadidos, festas na floresta, decoração, iluminação, projeções  e festas em clubes, sempre tocando e produzindo. Ainda estou profundamente envolvido com isso e provavelmente estarei pelo resto da minha vida.

Purpletrance: Conte-nos um pouco sobre o projeto Hutti Heita?

Hutti Heita: No fim dos anos 90, comecei a ficar cansado das raves comuns. A cena se dividiu em muitos gêneros e, no fim, parou de ser inovadora. As festas foram para os clubs e viraram modinha, no meio dos anos 90. Fiquei cansado do que a cena tinha se tornado. Para mim, o principal era dançar em união, não importando seu status social ou origens.

A rave era uma zona livre, uma “igreja moderna”, onde você era livre pra ser você mesmo e dançar com outras pessoas de mente aberta, como faziam nossos ancestrais tribais. Eu sempre senti um chamado muito puro e espiritual para isso e acho que esse espírito se perdeu quando as raves foram para os clubs.

Sempre tive muitos amigos loucos por música e alguns deles começaram a ouvir psy trance. Eu frequentava festas Goa em Oslo desde 95, mas talvez por causa dos DJs, a música me parecia monótona. Parecia Tiesto, mas com escalas indianas. Todas as músicas pareciam iguais, com os mesmos elementos clichês. Só em 1999-2000 meus amigos me apresentaram a alguns projetos que achei interessante. Era um som que parecia muito mais maduro, mais profundo e espiritual do que eu havia conhecido alguns anos atrás. Fiquei curioso e fui a algumas festas de goa/psy trance em Oslo.

Nessas festas, conheci o Laf, que era um dos principais DJs de Goa na Noruega. Ficamos amigos e em 2 ou 3 anos começamos o que eventualmente seria a Ygggdrasil Records e Hutti Heita. Ele já havia ido a Goa, na India, algumas vezes e me introduziu à cena Goa internacional.

O objetivo do projeto Hutti Heita era criar música psicodélica interessante, do jeito que nós gostávamos, com foco no trance tribal e atmosferas profundas. Nós nos sentíamos desconectados com o fullon psy trance da época, por volta de 2003. Parecia que tudo saia da mesma “máquina do trance”. Sentimos um chamado para voltar, ou ir na direção da essência do trance e da psicodelia. Junto com outros artistas escandinavos, criamos o nome “Forest Trance”. A ideia era trazer de volta a inovação e a criatividade, ao mesmo tempo nos mantendo verdadeiros em relação ao trance e à psicodelia.

Se tivemos sucesso ou não, não sou eu quem pode decidir, mas acho que não é difícil notar a presença do Forest na cena de uns anos para cá. Na Escandinávia, gostamos de fazer festas na floresta, em lugares exóticos e escondidos, onde podemos nos conectar a Gaia, como espíritos tribais que amam a natureza. Algo como a “rave verde”. Se você já se perdeu num lugar como esse, nós dizemos, em norueguês, que você esteve em “hutti heita”.

 

Purpletrance: Como é o processo de criação e produção de suas tracks e de onde vem a inspiração?

Hutti Heita: Para mim, o processo de produção de musica é me isolar do mundo externo por um tempo e focar no que estou fazendo. Insipraçao vem de toda parte. Eu tiro coisas de todos os tipos de música. Venho da cena rave no seu início, quando não podíamos comprar synths, então o sampler era onde podia exercer a criatividade. O Sampler foi meu primeiro instrumento e brinco que ele é o “papagaio dos synths”, porque você pode repetir qualquer som que ouvir. Eu gosto de usar samples de filmes antigos ou outras músicas estranhas que eu encontrar. Eu amo o jazz contemporâneo improvisado e às vezes uso isso como sample.

Melodias, atmosferas e composições são inspiradas em experiências psicodélicas, é claro. As drogas químicas e pesadas são como poluição para mim, mas acho que algumas substâncias psicodélicas, como cogumelos, deveriam ser legalizadas, já que têm efeitos mais positivos do que negativos para a humanidade. É claro que não é necessário experimentar substâncias psicodélicas para entrar na música, mas seria mentira dizer que elas não me inspiraram. Elas inspiraram Steve Jobs na criação da Apple.

Para conhecer um pouco mais do trabalho de Hutti Heita
https://soundcloud.com/huttiheita