Um valor que sempre esteve muito presente na cultura trance e psicodélica do mundo é a Liberdade. A liberdade de ser, de agir, de viver da forma que se bem entender, sem proibições, preconceitos e julgamentos.
Mas se existe algo que parece não passar de uma utopia para a maioria de nós hoje é essa mesma liberdade. Numa sociedade decadente como a nossa é difícil encontrar alguém que seja completamente livre e independente de qualquer sistema. Não tem como negar, nascemos para ser escravos de vários sistemas.
Vamos pensar um pouco: ao longo da vida experimentamos uma série de “prisões”. A primeira delas é a família, onde começamos a ouvir os primeiros “nãos”. É na infância que percebemos que neste mundo nem sempre podemos colocar em prática nossas vontades, que existe o conceito do proibido, e mais do que isso, o conceito do certo e do errado. É como se cada um de nós tivesse a oportunidade de sentir como Adão e Eva sentiram antes e depois da mordida na maçã.
Chega uma hora que você entra para a escola, onde você é obrigado a aprender aquelas coisas, e daquele jeito. Lá dentro você conhece novas regras, novas proibições. Sua inteligência é medida através de números e são eles que expressam, de forma ineficiente, sua capacidade de compreensão a cerca de um conteúdo qualquer.
Então você vai crescendo e percebendo que neste mundo a vida é pré-fabricada. Você e seus amigos vão construindo vidas parecidas, afinal, todas as famílias ensinam os mesmos caminhos para seus filhos e fazem questão de assegurar que eles vão segui-los. Você deve estudar, trabalhar, comprar um carro, fazer uma faculdade, conseguir um bom emprego, comprar uma casa, se casar, ter filhos e transmitir este mesmo caminho para eles. Você sente-se obrigado a seguir estes padrões de vida e é levado a crer que se não segui-los jamais encontrará a felicidade.
Quando adulto, você se vê escravo do dinheiro, da empresa para qual trabalha, do sistema bancário, imobiliário, do sistema de saúde… os mais azarados podem portar uma espécie de coleira carinhosamente chamada de “gravata”, estilizada de tal forma que deixa seus portadores sentindo-se mais bonitos e poderosos.
Está visível para todos que a sociedade foi construída de uma maneira que você até tem a opção de libertar-se das várias algemas que carrega, mas
sua vida não será nada fácil sem elas, simplesmente porque será um caminho solitário, sem modelos, conselhos e precedentes.
Você pode largar tudo que tem agora mesmo e viver com o mínimo possível, ser um nômade, um pescador, agricultor e descobrir que é quando não se tem nada que se conquista tudo. O que te impede de fazer isso? Bom, não sei você, mas no meu caso eu detectei outras prisões me limitando, e são prisões das quais eu dificilmente vou escapar. Prisões internas, psicológicas, sonhos com um futuro que eu quero construir e que me obrigam a admitir ser escravo do sistema para daqui a alguns anos me livrar dele. Preciso permanecer um tempo nas prisões e planejar com calma a data da minha fuga. É uma questão de paciência.
Portanto, a culpa de sermos escravos do sistema não é exclusivamente da sociedade. Às vezes a cela também está dentro de nós, da nossa cabeça.
Como sou radical, acho que quem tem a chama da liberdade acesa no peito deve busca-la a qualquer custo porque até onde se sabe só se tem uma vida… e se realmente existirem outras como se acredita, esta com certeza é a mais importante de todas, pois é a que está acontecendo agora.
Então se você não tiver nenhum sonho, projeto ou objetivo maior amarrando correntes nos seus pulsos, apoio qualquer decisão sua de chutar o pau da barraca e sair em busca de um pouco de vento na cara e de horizontes ilimitados… pois convenhamos, já temos exemplos demais de que esta vidinha inútil que nos ensinaram não nos leva a lugar nenhum que valha a pena.
Papa Volcán tem 26 anos, é DJ e estudante do instrumento persa sarod. Ele tem encontrado na música eletrônica o caminho da liberdade. É apaixonado pelo trance e pelo psychill.
