Me recordo como se fosse hoje da minha primeira festa, um grupo de amigos sedentos por novas experiências e meio “porra loucas” que ouviram falar que havia um tipo de festa chamado “rave”, fomos levados por um amigo que já tinha ido algumas vezes pra esse tipo de festa, nas palavras dele era como se não existisse esse tipo de festa, algo meio que surreal, esse amigo que nos apresentou ainda faz parte do grupo e está sempre com a gente, alguns pararam de ir, outros acharam muito hardcore e foram em apenas algumas festas e outros ainda continuam com nós firme forte, dançando, falando abobrinha, sorrindo e o principal, se divertindo!

Após alguns anos (que não são poucos) frequentando eventos desse tipo, “Universos Paralellos” que vem, “Universos Paralellos” que vão, festivais fora do Brasil, festivais de 30 mil pessoas, festas de 50 pessoas, muitas amizades feitas, muitas risadas, muitas alegrias, alguns perrengues, paro e reflito sobre o fenômeno da super-espiritualização.

Me lembro que no começo achava todo aquele movimento insano, diferente, alternativo, foi paixão á primeira vista, eram clubbers e ciberpunks todos misturados, a rave era o objetivo, uns invadiam as festas, outros pegavam carona, faziam de tudo pra chegar na rave, quando chegava era aquela sensação de objetivo conquistado, pronto, joga a mochila nas costas e vai pra pista!

Sei que as coisas mudam com o passar do tempo, isso é a coisa mais normal do mundo, que está sempre em processo continuo de mudança todos os dias e isso é bom!

Nos dias de hoje enxergo um fenômeno muito interessante, a super-espiritualização de festas e festivais, há um grupo de pessoas que acaba levando as coisas a sério demais, estabelecendo dogmas e cravando certos conceitos.

Alguns dias atrás nós aqui do purpletrance recebemos um comentário muito interessante do @Carlos Cruz e que foi usado como base para esse texto, o comentário foi no post Por que o Trance pode ser uma experiência mística?

Veja um trecho do comentário:

Quando você abre mão do seu estado de consciência, você se torna uma presa fácil para qualquer tipo de estimulo, seja ele religioso ou não. Já tive a oportunidade de conhecer diversos tipos de culturas religiosas, politicas, artísticas…Quantas e quantas vezes eu vi pessoas de olhos fechados sob o efeito de músicas que eles chamam de “Louvores”, que na grande maioria não passam de mantras. Isto mesmo, os católicos, os evangélicos, (principalmente os pentecostais),os espiritas, os budistas e outros, se utilizam bastante desse recurso. Se alguém conseguir esvaziar sua mente, ele também conseguirá colocar o que ele quiser nela. Partidos políticos, Igrejas, Sociedades secretas, times de futebol e outros seguimentos da sociedade, obtém grandes êxitos não é porque eles são bons ou essenciais para nossas vidas. O que na verdade eles fazem, é através de métodos dos mais diversos é colocar as massas em estado de inconsciência para que achemos que eles são bons e essenciais para nossas vidas. Adolf Hitler dizia que o sonho dele era criar uma geração de inconscientes. Algum motivo ele tinha para pensar assim. O que a música faz Trance psicodélico, é a mesma coisa que os “louvores” fazem nas Igrejas, Que os hinos fazem nos estádios…Nos anos 80 quando Israel difundiu o Trance psicodélico, que na verdade é oriundo do Goa indiano, aqui no Brasil a moçada nos anos 70 embalados pelas bandas psicodélicas: Flying Eyes, Pink Floyd, O nosso brasileirismo grupo Os Mutantes e várias outras bandas, já fazia a cabeça de muita gente.

O psy trance (ou trance psicodélico se preferir) como conhecemos em suas mais variadas vertentes é um som intenso, que nos faz viajar para lugares nunca antes alcançados, somos tele-transportados a outras dimensões, não estou aqui querendo ser polêmico e pré-conceitualizar a galera super-espiritualizada, muito pelo contrário, só acho válido alertar para as armadilhas que o esvaziamento da mente coloca em nossos caminhos, quantas e quantas vezes me peguei dançando de olhos fechados durante horas sem nem saber quanto tempo havia passado, isso é único.

Festas e festivais são eventos que carregam em sua essência algo único, me vejo frequentando festivais daqui 10, 20, 50 anos ainda, expandindo minha consciência, dançando (talvez de bengala…rs), dando risada, me divertindo, esse é o ponto, a diversão consciente, festivais são locais onde a cultura e a arte andam de mãos dadas, onde podemos nos divertir e ainda levar algo pra casa, experiências, amizades ou até aprender algo, conheço pessoas que começaram a ir para festas e hoje mudaram de profissão, produzem música e artesanato por exemplo, o trance é isso, ele pode despertar algo que está escondido nas profundezas da nossa mente, só não misture com religião e fique bitolado.