Esse texto lindo foi escrito pela Tai Wolfart, que quis compartilhar com a gente como foi seu início no universo do Trance. Confiram!

“É aquela festa que tem muita droga e música barulhenta?!”

Foi exatamente isto que eu ouvi de meus pais quando, aos 17 anos, disse que ia à minha primeira rave. Caramba, nem eu sabia direito o que era, e o (pré)conceito já estava ali, formadinho na cabeça deles. Pra minha sorte, apesar do pouco que sabiam sobre a tal festa, sabiam muito sobre mim, e não me impediram de ir. Lembro até hoje como foi surpreendente a sensação de estar ao ar livre, curtindo um som, com bons amigos em volta e com várias horas ainda pela frente. E sim, a música era barulhenta, e haviam as drogas, mas elas estão presentes em todo lugar, legalizadas ou não. Enfim…era um conceito de diversão totalmente novo pra mim, mas ainda era apenas diversão. Logo me percebi indo em todas as festas que aconteciam aqui na capital paranaense, decorando o nome dos DJ’s, esperando ansiosamente pela próxima…Mas como a maioria das novidades, esta passou a perder um pouco da graça.
Não sei ao certo o porque, mas estava perdendo o interesse. Então, em novembro de 2008, um amigo me falou de um festival que acontecia a Bahia na virada do ano, e eu, por uma feliz manobra do destino e com uma boa graninha advinda de uma rescisão de trabalho, decidi que iria ver qual era a dessa bagunça. Fui de ônibus, e já na viagem comecei a perceber que aquilo não era algo comum.As pessoas que estavam comigo na excursão eram o grupo mais estranho que eu já havia visto, e mesmo assim pareciam todos estar em unidade. Pra resumir a experiência, depois de 48 horas de uma cansativa ( porém formidavelmente hilária ) viagem, dei por mim recebendo uma pulseirinha do Universo Paralello, e carregando a minha mochila de rodinhas por quase 1,5km de areia fofa.
Durante o festival, conheci várias pessoas diferentes, me despi de diversos conceitos, vivi situações que jamais imaginaria, passei vários perrengues e percebi a quantidade de gente do bem que habita este nosso planetinha azul. Eu compreendo que cada um tem seu gosto, e este deve ser respeitado, mas a cultura TRANCE começava a me mostrar algo realmente diferente do que as festas “comerciais”.

A música, as pessoas, os cheiros, as experiências, as lembranças, os aprendizados…

Os festivais alternativos nos trazem a leveza da vida, nos mostram que menos realmente é mais, e que pra viver, precisamos de intensidade, e não de quantidade. Sete anos se,passaram, e neles aprendi muito mais que em toda a minha vida anterior. Tanta coisa aconteceu! Cada olhar trocado, cada gentileza feita e recebida, cada suspiro de felicidade…Olho pra trás e penso que devo ter feito algo realmente bom pra merecer tudo o que tenho experienciado desde então.
Esta é a sensação pungente e unânime nos privilegiados seres que realmente vivenciam esta cultura: gratidão. Sinto que sou uma pessoa infinitamente melhor do que era antes, e o sou de dentro pra fora. E um fato curioso é que a máxima “ você colhe o que você planta” parece se encaixar perfeitamente em nosso estilo de vida. Atraímos um sem número de pessoas do bem, e o Universo parece conspirar pra que as coisas fluam da melhor forma possível, pra ajudarmos e sermos ajudados nos momentos exatos. Às vezes é quase possível enxergar esta maravilhosa engrenagem girando.
Acredito que tudo isso o que envolve esta cultura pode sim, ser uma válida ferramenta de evolução e união humana.
Como explicar tudo isso? Como colocar em palavras experiências e sentimentos tão únicos?
Sinceramente, não faço ideia. Realmente tudo isso é algo pra ser sentido e vivenciado. Conheci pessoas das mais diversas histórias e caminhos, e isso me prova que qualquer pessoa pode fazer parte disso. É só fechar os olhos, e abri-los novamente para outras perspectivas.
Hoje não me preocupo mais em dizer aos meus pais aonde vou, não só pelo fato de estar mais velha, mas por sentir que eles sabem que, aonde eu estiver, estarei em casa.

Foto By Bruno Camargo.