O espanhol Jorge Bazan é Dark El Kante, figura importantíssima na difusão da sonoridade Freestyle mundo afora. Nasceu em Ubrique, uma pequena cidade de 18 mil habitantes localizada na província de Cadiz. Vive atualmente em Sevilha, mas passou vários anos em Edimburgo (na Escócia) participando ativamente e ajudando a desenvolver a cena eletrônica underground do país, promovendo festas em lugares como o The Bongo Club, Studio 24 e Ego Club.

Dark El Kante integra o casting do selo japonês 6-Dimension Soundz ao lado de nomes como Texas Faggot (aka Mandalavandalz), Exuus e Flying Scorpions, mas também administra sua própria gravadora chamada Random Records que atua sem fins lucrativos e fora criada exclusivamente em apoio a projetos de ajuda indígena ao redor do globo. A Random já lançou diversas coletâneas incríveis como a “Indigenous S.O.S. Benefit Project”, “Psychoptria Viridis” e “Native Planet”, além de álbuns de artistas como Kalumet, Sygmatix e Decibel.


PURPLETRANCE:
Como a música entrou na tua vida?

DARK EL KANTE: Tenho que agradecer muito à influência que meus três irmãos maiores tiveram sobre mim, já que na década de 80, quando vivi minha infância, era muito habitual escutar bandas que utilizavam sintetizadores como Kraftwerk, Mike Oldfield, Jean Michel Jarre, Vangelis, OMD, Michel Cretu… Provocando em mim o interesse pela música eletrônica nos anos 90.

[Tengo que agradecer mucho a la influencia que mis tres hermanos mayores tuvieron sobre mi, ya que en la década de los 80, cuando viví mi infancia era muy habitual escuchar bandas que utilizaban sintetizadores como Kraftwerk, Mike Oldfield, Jean Michel Jarre, Vangelis, OMD, Michael Cretu…, provocando en mi el interés por la música electrónica en los años 90.]

 

PURPLETRANCE: Como chegaste à cena trancer?

DARK EL KANTE: Devo tudo a um amigo que viajou à Índia e ali conheceu as festas em Goa, me presenteando com música que trazia de lá. Essa música criou um impacto muito grande em mim, já que unia a música eletrônica com sons tribais e psicodelia, algo novo e excitante para os meus ouvidos.

[Se lo debo todo a un amigo que viajo a la Indía y allí conoció las fiestas en Goa, regalándome música que traía de allí. Esa música creó un impacto muy grande en mi, ya que unía la música electrónica, con sonidos tribales y la psicodelia, algo nuevo y excitante para mis oídos.]

 

PURPLETRANCE: Fale um pouco sobre a Random Records.

DARK EL KANTE: Random é um coletivo que se iniciou em Edimburgo (Escócia) em 2006, com a ideia de organizar eventos na cidade. Dois anos depois viajei à Colômbia e ali conheci um grupo de indígenas chamado “Cofán”, com os quais eu provei Ayahuasca em vários rituais que participei. O xamã chamado Bernardo me contou que eles eram refugiados dentro de seu próprio país, já que tiveram que deixar a selva por conta da luta armada em seu território ancestral entre grupos guerrilheiros e paramilitares, por culpa do interesse na zona das petroleiras norteamericanas e que devido a isso estavam perdendo suas terras e seu modo de vida sem saber o que fazer nem para onde ir. Na última cerimônia de Ayahuasca que tive com eles, o xamã me confessou que enxergou em suas visões que eu no futuro faria algo grande por eles. No momento não compreendi, mas dois anos depois iniciei o projeto Indigenous S.O.S. que é ao mesmo tempo parte da Random Records, já que toda nossa música é destinada a apoiar, entre outros, os indígenas Cofán e a muitas ONG’s de ajuda a povos indígenas por todo o mundo. Depois de 4 anos já temos 14 lançamentos musicais.

[Random es un colectivo que se inició en Edimburgo (Escocia) en 2006, con la idea de organizar eventos en la ciudad. Dos años después viajé a Colombia, y allí conocí a un grupo de indígenas llamados “Cofán” con los que probé Ayahuasca en varios rituales que compartí con ellos. El chamán llamado Bernardo me contó que ellos eran refugiados dentro de su propio país, ya que tuvieron que dejar la selva por la lucha armada en su territorio ancestral entre grupos guerrilleros y paramilitares, por culpa del interés en la zona de las petroleras norteamericanas, y que debido a esto habían perdido sus tierras y su modo de vida, sin saber que hacer ni donde ir. En la última ceremonia de Ayahuasca que tuve con ellos, el chamán me confesó que en sus visiones yo en el futuro haría algo grande por ellos. En su momento no lo comprendí, pero dos años después inicié el proyecto Indigenous S.O.S. que es a la vez parte de Random Records, ya que toda nuestra música va destinada a apoyar entre otros a los indígenas Cofán y a muchas O.N.G.´s de ayuda a pueblos indígenas por todo el mundo. Después de 4 años ya tenemos 14 lanzamientos musicales.]

 

PURPLETRANCE: Quais os principais desafios na indústria da música psicodélica alternativa?

DARK EL KANTE: Meu principal desafio pessoal é simplesmente me divertir e ajudar os artistas em tudo que for possível como parte do movimento alternativo para tentar promover a cultura para as massas de forma independente, sem interesses econômicos, mas sim com a mentalidade de fazer desse movimento algo de bons princípios longe deste mundo consumista e egoísta. Caso contrário a música psicodélica, como já acontece com alguns sub-gêneros, se tornaria um movimento de massas e sem sentido criativo.

[Mi principal y personal reto es simplemente pasarlo bien y ayudar a los artistas en todo lo posible y como parte del movimiento alternativo pues intentar fomentar su cultura independientemente a las grandes masas y sin intereses económicos, y si con mentalidad de hacer de este movimiento algo de buenos principios alejado de este mundo consumista y egoísta. De otra manera la música psicodélica como ya está pasando con algunos sub-géneros se convertiría en un movimiento de masas y sin sentido creativo.]

 

PURPLETRANCE: Como entrou no casting da 6-Dimension Soundz?

DARK EL KANTE: Foi no início de 2010 quando contatei o Shakaru Hasegawa (que agora descansa em paz), enviei vários de meus DJ Sets para mostrar minhas habilidades e ele rapidamente se mostrou muito interessado em me fazer DJ da gravadora, representando seus sons por toda a Europa.

[Fue a principios de 2010 cuando contacté con Sharaku Hasegawa (que descansa ahora en paz), y le envié varios de mis dj sets para mostrarle mis habilidades como dj y rápidamente el se mostró muy interesado en hacerme dj de la discográfica, representando sus sonidos por toda Europa.]

 


PURPLETRANCE:
O que te encanta na pista de dança?

DARK EL KANTE: O que eu mais gosto da pista de dança da música psicodélica é a liberdade para poder dançar e se expressar sem que ninguém te julgue, a multiculturalidade de muitos festivais e sobretudo o sentimento de união com tudo e com todos: “we are all one”.

[Lo que mas me gusta de la pista de baile de la música psicodélica es la libertad para poder bailar y expresarte sin que nadie te juzgue, la multiculturalidad en muchos festivales y sobre todo el sentimiento de unión con todo y con todos: “we are all one”.]

 

PURPLE TRANCE: Como analisas a produção musical psicodélica atual?

DARK EL KANTE: Realmente não sigo todos os sub-gêneros já que existe muita produção musical no auge da era digital e pessoalmente acredito que a qualidade musical e de produção dos últimos anos tem caído. Hoje em dia qualquer um pode produzir música em casa (o que me parece genial), mas nos anos 90 era algo mais elitista. Pessoalmente sigo a música Suomi e o Freestyle Psychedelic Trance, e um tanto de Goa Trance, Forest e Ambient.

[Realmente no sigo todos los sub-géneros ya que hay demasiada producción musical por el auge de la era digital, y personalmente creo que ha bajado la calidad musical y de producción en los últimos años. Hoy en día cualquiera puede producir música en casa (lo que me parece genial), pero en los 90 era algo mas elitista. Personalmente sigo la música Suomi y el Freestyle Psychedelic Trance, y algo menos Goa-Trance, Forest y el Ambient.]

 

PURPLETRANCE: Com tanta diversidade de sub-gêneros dentro do trance psicodélico, por que escolheste principalmente o Suomi/Freestyle e também o Chillout?

DARK EL KANTE: Escolhi o Suomi e o Freestyle principalmente porque me parecia uma música muito divertida e sem regras, o que fomenta a criatividade entre seus artistas com influências da música Punk, Jazz, Funk ou Folk. A música Suomi soa mais “orgânica” com a inclusão de instrumentos como guitarras, flautas, trompetes, ou até mesmo com o som de baixo e percussão que parecem sair de uma banda e não de música eletrônica. O Freestyle é mais contundente e gosto muito de como suas linhas de baixo são divertidas e variadas.

Gosto do Chillout como uma parte mais espiritual de mim, onde busco com seus sons expressões mais transcendentais.

[Elegí el Suomi y el Freestyle principalmente porque me parecía música muy divertida y sin reglas, lo que fomenta la creatividad entre sus artistas, con influencias de la música Punk, Jazz, Funky o Folk. La música Suomi suena más “orgánica” con la inclusión de instrumentos como guitarras, flautas, trompetas, o incluso en sonido del bajo y la percusión parecen provenir de una banda y no de la música electrónica. El Freestyle es mas contundente y me gusta mucho como sus líneas de bajos son muy divertidas y variadas.

Me interesa el Chillout como una parte mas espiritual de mi, donde busco con sus sonidos expresiones mas trascendentales.]

 

PURPLETRANCE: O que te faz feliz?

DARK EL KANTE: Me faz feliz aprender, viajar, estar com a família e me sentir livre.

[Me hace feliz aprender, viajar, estar con la familia y sentirme libre.]

 

PURPLETRANCE: Quem admiras?

DARK EL KANTE: Quem cria algo novo e não imita, quem vive uma vida de bons princípios, mas acima de tudo meus pais.

[A quien crea algo nuevo y no imita, a quien vive una vida de buenos principios, pero sobre todo admiro a mis padres.]

 

PURPLETRANCE: Alguma vez te imaginaste fazendo outras coisas não relacionadas com a música?

DARK EL KANTE: Sim, muitíssimas coisas, mas sobretudo me encanta a vida na natureza. Meu sonho é poder ter uma vida autossustentável e longe do mundo consumista que nos querem impor.

[Si, muchísimas cosas, pero sobre todo me encanta la vida en la naturaleza, mi sueño es poder tener una vida auto sostenible y alejada del mundo consumista que nos quieren imponer.]

 

PURPLETRANCE: Quais os lugares que visitaste no planeta que mais te impactaram?

DARK EL KANTE: Já viajei três vezes para a América do Sul e Central, passando por países como Brasil, Paraguai, Bolívia, Argentina, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Nicarágua, e de todos esses lugares ressaltaria o calor e a felicidade inatas de seus povos, o maior contato com a natureza que têm e também vi que existe muita desigualdade nas grandes cidades com muitas crianças abandonadas na rua. Algo muito triste.

Também viajei pela maioria dos países da Europa e o que mais visitei foi o Marrocos na África, um país de muitos contrastes, com paisagens incríveis e gastronomia muito natural e esquisita.

[Ya he viajado 3 veces a Sud y Centro América, pasando por países como Brasil, Paraguay, Bolivia, Argentina, Colombia, Panamá, Costa Rica, Nicaragua, de todos estos lugares resaltaría la calidez y felicidad innatas de sus gentes, el mayor contacto con la naturaleza que tienen y también vi que hay mucha desigualdad y en las grandes ciudades muchos niños abandonados en las calles, algo muy triste.

También viajé por la mayoría de países de Europa, y el país que mas visité, es Marruecos en Africa, un país de muchos contrastes, con paisajes increíbles y con una comida muy natural y exquisita.]

 

PURPLETRANCE: O que escutas constantemente hoje?

DARK EL KANTE: Meus gostos musicais atuais são muito variados e em casa posso escutar Ambient, Reggae, New Age, Synth-Pop, Folk… Mas de psicodelia, principalmente Suomi e Freestyle, artistas como: Texas Faggot, Squaremeat, Salakavala, Tekniset, Mandalavandalz, James Reipas, Luomuhappo, Talpa, Neuron Compost…

[Mis actuales gustos musicales son muy variados, y en casa puedo escuchar Ambient, Reggae, Flamenco, New Age, Synth-Pop, Folk…, pero de psicodelia sobre todo Suomi y Freestyle, con artistas como: Texas Faggott, Squaremeat, Salakavala, Tekniset, Tamlin, Mandalavandalz, James Reipas, Luomuhappo, Talpa, Neuron Compost…]

Foto: Naomi Images.

Foto: Naomi Images.


PURPLETRANCE:
Na tua opinião, quais os discos mais influentes do Psychedelic Trance?

DARK EL KANTE: Na minha opinião são os seguintes, seguindo meus gostos musicais e ordem de lançamento:

– Hallucinogen – Twisted (Dragonfly Rec., 1995)

– Texas Faggott ‎– Petoman’s Peflett (Exogenic Rec., 2000)

– Squaremeat – Wave Soup (Exogenic Rec., 2000)

– Flying Scorpions ‎– Lipoptena Cervi  (6-Dimension Sound, 2003)

– Luomuhappo ‎– Pog-O-Matic Pogómen 3000000 (Freakdance Rec., 2004)

– Variuos, Schizm (Gi’iwa Productions, 2004)

– Texas Faggott ‎– Pilluminati Cunt Roll (Exogenic Rec., 2004)

– Procs – Stuck In The Oven With Me (Trishula Rec., 2005)

– Derango – Tumult (Inpsyde Media, 2005)

– Various, No Possible Soundz (6-Dimension Sound, 2006)

– Various, Snap Crackle Drop! (Morning Monsters Rec., 2007)

– Tamlin – Spectrogram ( Faerie Dragon Rec./ Gi’iwa Productions, 2008)

– Various, Hippie Killer Collection (Hippie Killer Productions, 2008)

– Tekniset – Teknical Problems (Freakdance Rec., 2011)


PURPLETRANCE:
Quais os planos para o futuro, tanto para a Random Records quanto para o Dark El Kante?

DARK EL KANTE: Nos próximos anos espero que a Random Records e nosso projeto beneficente siga crescendo. Temos em mente lançar coletânea de Suomi, outra de Forest e cada vez mais lançarmos EPs com muitos dos artistas que colaboram conosco, e algum outro álbum surpresa com um artista de reconhecimento mundial, mas sobre isso não posso adiantar mais nada. Como Dark El Kante espero seguir fazendo tudo que eu gosto, independentemente de ser aceito pelo “grande público” ou não. Também espero lançar alguma produção própria com sons evidentemente influenciados pelo Suomi & Freestyle Psy-Trance, também uma coletânea com a Random Recs. e no futuro mais próximo vou viajar a países onde tenho a maioria de meus seguidores como a Finlândia e o Japão com dois tours de duas semanas em cada um. À Finlândia irei em agosto e ao Japão em novembro com datas já confirmadas.

[En los próximos años espero que Random Records y nuestro proyecto benéfico siga creciendo, tenemos en mente sacar algún recopilatorio de Suomi, otro de Forest y cada vez mas lanzaremos Eps con muchos de los artistas que colaboran con nosotros, y algún que otro álbum sorpresa con un artista de reconocimiento mundial, pero del que no puedo adelantar nada mas. Como Dark El Kante espero seguir haciendo todo lo que me gusta, independientemente de si es aceptado por el “gran público” o no. Y también espero sacar alguna producción propia con sonidos evidentemente influenciados por el Suomi & Freestyle Psy-Trance, también algún recopilatorio con Random Rec. y en mi futuro mas próximo voy a viajar a países donde tengo la mayoría de mis seguidores como Finlandia y Japón: con dos tours de dos semanas cada uno, a Finlandia iré en Agosto y a Japón en Noviembre, con fechas ya confirmadas.]