O que vocês vão ler abaixo são trechos de uma matéria da revista época. Para quem quiser ler a reportagem inteira, tem o link ao final do post.

Califórnia, Estados Unidos, 1971. Um detento da prisão de San Luis Obispo sobe até o telhado e, pendurado em cabos de telefonia, atravessa o pátio e pula o muro. Do lado de fora, um carro o aguardava. Dias depois, ele chegou à Argélia, sob os cuidados do grupo revolucionário Panteras Negras. O fugitivo era Timothy Leary, doutor em psicologia formado pela Universidade Berkeley e professor de Harvard. Ou, nas palavras do então presidente dos EUA, Richard Nixon, “o homem mais perigoso da América”. Leary foi o principal ativista dos usos medicinais e recreativos do alucinógeno LSD, na década de 1960. Quando a droga foi proibida pelo governo americano em 1970, até para pesquisas científicas, Leary decidiu seguir sua campanha como um fora da lei. A imagem de Leary se confunde com a do ácido: aceito socialmente nos anos 1950 e 1960, maldito a partir da década de 1970 – e atualmente em processo de redenção. Há cerca de 20 estudos em andamento no mundo sobre LSD, um renascimento do uso terapêutico da droga.

Na forma de cápsulas e ampolas, com o nome Delysid, o ácido chegou às farmácias. Como ocorre hoje com remédios como o Rivotril, a exigência de receita médica era mera formalidade. Psicólogos e pacientes estavam ávidos por experimentar o medicamento capaz de abrir as “portas da percepção” – expressão associada ao efeito dos alucinógenos que batizou um livro do escritor Aldous Huxley e inspirou o nome da banda The Doors. Os atores Jack Nicholson e Cary Grant se ofereceram como voluntários das pesquisas. Grant disse que se tornou uma nova pessoa graças ao LSD. “Encontrei quem eu era por trás de todos os disfarces, hipocrisias e vaidades. Me desfiz deles, camada por camada.” Segundo a revista americana Vanity Fair, cerca de 40 mil pessoas no mundo todo experimentaram o LSD entre 1950 e 1965.

A pregação de Leary influenciou os Beatles, que devem algumas canções ao LSD. “‘Day tripper’ é uma delas”, disse Paul McCartney, em 2004. “‘Lucy in the sky’ é outra, obviamente.” Autor de “Lucy in the sky with diamonds” (“Lucy no céu com diamantes”), John Lennon, em vida, negou que o título da música fosse uma referência às iniciais LSD. “Lucy era uma amiga de meu filho Julian”, disse. Mas Lennon não escondia sua intimidade com o ideólogo do ácido. Leary é uma das vozes na gravação do hino pacifista Give peace a chance, de Lennon. O LSD inspirou outras estrelas, como Eric Clapton e Jim Morrison, e desconhecidos que chegariam à fama décadas depois, como o fundador da Apple, Steve Jobs. “Tomar LSD foi uma das duas ou três coisas mais importantes de minha vida”, disse Jobs.

As portas da pesquisa com alucinógenos só foram reabertas na década de 1990, quando a Food and Drug Administration (FDA), autoridade de saúde dos Estados Unidos, igualou a classificação das drogas psicodélicas à de substâncias como ópio e anfetamina, livres para estudo. Os resultados da liberação começam a aparecer. Em 2011, o doutor em psiquiatria Peter Gasser concluiu uma pesquisa de LSD no tratamento para depressão. Foi o primeiro estudo completo, após quatro décadas de proibição. “Diante de efeitos benéficos tão evidentes, é intrigante por que terapias com LSD foram tão abertamente ignoradas”, afirmou o neurocientista norueguês Pal-Orjan Johansen, autor de uma pesquisa sobre o uso do LSD no combate ao alcoolismo.

As novas pesquisas com alucinógenos são financiadas por doadores sem finalidades comerciais, como o cantor Sting ou o fundador do Napster, Sean Parker. Gente de mente e bolsos abertos também bancou os últimos dias de Timothy Leary. Após sua fuga espetacular da prisão, em 1971, ele entrou em acordo com o governo americano, cumpriu pena de três anos e moderou suas ações. Morto em 1996, vítima de câncer, ele durou o bastante para ver a retomada dos estudos com a droga a que dedicou a vida.

http://revistaepoca.globo.com/ideias/noticia/2012/06/portas-reabertas-para-o-lsd.html